quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

IGREJAS NO RIO GRANDE DO SUL


OS MITOS DA PLANTAÇÃO DE IGREJA NO RIO GRANDE DO SUL





Lembro-me dos dias de seminário em Belo Horizonte quando um pastor da Junta de Missões Nacionais acabara de nos dar uma palestra sobre o desafio de plantar igrejas no Brasil. O que mais chamou a minha atenção foi quando o palestrante divulgou os dados estatísticos da presença presbiteriana no Sul do Brasil, especificamente o quadro triste do Rio Grande do Sul, com pouquíssimas igrejas e muitas cidades sem nenhuma alma presbiteriana. Naquela ocasião eu cursava o segundo ano do curso de Teologia e senti-me tremendamente impactado com aquela apresentação. Pensei seriamente em me tornar um plantador ou missionário no Rio Grande do Sul quando formasse.


Anos se passaram até minha formatura e aquele desejo ficou adormecido de certa forma em meu coração. No ultimo ano do curso "descongelei" aquele aspiração e comecei a preparar um projeto para captar recursos e viabilizar minha ida as terras gaúchas para servir ao SENHOR. Comecei a fazer vários contatos, com o presbitério, igrejas, Juntas e consultei vários amigos e pastores que tinham certa experiência nesta cultura. Pesquisei informações em vários sites sobre as cidades gaúchas, seu povo, cultura, culinária, tradição, festas, religiosidade, etc. Nesta fase de preparação, até minha chegada em Gramado no mês de janeiro de 2005, algumas afirmações ou indicações sobre as dificuldades de plantar igreja no Rio Grande ficaram bem claras em minha mente. Coisas sobre a dureza do coração do gaúcho, influências das crenças espiritas e umbandistas, o bairrismo imposto pela cultura germânica e italiana impeditivas ao bom relacionamento com os "estrangeiros", como eu, entre outras coisas. O que eu mais ouvia então era que plantar igrejas no Rio Grande do Sul era tarefa hercúlea e quase uma MISSÃO IMPOSSIVEL.


Passados cinco anos desde o inicio do projeto pioneiro em Canela, surgiu como fruto do projeto uma igreja dinâmica, vibrante, alegre,  em ponto de organização, com várias famílias alcançadas na evangelização e discipulado, mercê exclusivo da graça de Deus, envolvidas em todos os aspectos da igreja de Deus. Neste artigo, em tom pessoal de reflexão, ouso apresentar algumas considerações, depois de muito refletir sobre o que eu ouvi antes de chegar aqui e aqui chegando. As afirmações ou indicações já citadas acima eu nomeei de MITOS. Mitos da plantação de igreja no Rio Grande do Sul. Emprego este termo "mito" no sentido de uma "ideia falsa, que distorce a realidade ou não corresponde a ela" (Aurélio). Acredito mais ainda, que não se trata somente de mitos no RS, mas mitos na plantação de igreja em qualquer parte do mundo. Vejamos então:


PRIMEIRO MITO

"O CORAÇÃO DO GÁUCHO É MUITO DURO E, PORTANTO, É DIFICIL DE CONVERTER-SE".


Esta é uma afirmação teologicamente arminiana. Nós reformados fazemos a obra missionária de plantação de igreja repousados na confiança absoluta da soberania de Deus. A doutrina da eleição é nosso pressuposto maior para semear a boa palavra de Deus, que é poderosa para levar o eleito a nova vida em Cristo, gerada pelo Espírito Santo. Quem afirma que o coração do gaúcho é impedimento ao crescimento da igreja ou da sua implantação, nada mais esta fazendo do que "chover no molhado" (expressão muito comum na minha terra pra dizer que alguém disse o óbvio). Lembremos que um dos pontos de nossa doutrina calvinista afirma biblicamente que o homem natural esta morto espiritualmente, ou seja, na pratica esta muito mais do que com o coração duro, esta totalmente morto pelo pecado, seja no Rio Grande do Sul, em Minas, São Paulo, na China, Afeganistão, ou qualquer cantinho do mundo. Podemos perguntar: aonde existem pessoas de coração mole? A resposta deveria ser: somente na igreja do Senhor, somente aqueles que já nasceram de novo.


Portanto, creio que devemos refutar este mito do coração duro como justificativa para o pouco progresso da fé reformada no solo gaúcho. Os eleitos de Deus certamente responderão no tempo do SENHOR ao chamado eficaz do Espírito Santo através da pregação da Palavra.


SEGUNDO MITO
"O GRANDE NUMERO DE CENTROS ESPIRITAS E DE UMBANDA NO RIO GRANDE DO SUL SÃO IMPEDITIVOS PARA O PROGRESSO DA OBRA EVANGELISTICA DA IGREJA".


Agora piorou! Este mito além de ser arminiano como o anterior, é NEOPENTECOSTAL, dualista e supersticioso. Que a Batalha espiritual (não confundir com o sentido neopentecostal do movimento moderno da batalha espiritual) no Rio Grande do Sul possa ser mais renhida não temos dúvidas, mas daí creditar a pouca expansão do presbiterianismo devido a este conceito é fugir da verdadeira responsabilidade. Como bons reformados que somos, cremos que as hostes do inferno não podem de forma alguma prevalecer contra o avanço missionário da igreja do SENHOR. A igreja só não avança se não quiser (se é que isto é possível), se trair seu chamado. Uma vez que a igreja avance, toda autoridade lhe foi confiada e todas as promessas lhe garantem absoluto sucesso na empreitada de resgatar os eleitos de Deus por meio da pregação encontrada na plantação de uma igreja.


Concluo que este mito também não se sustenta. Afirmo ainda que o fato do povo gaúcho ser na sua grande maioria "espiritualistas" (pessoas que são adeptas e simpáticas a todas as religiões e crenças, que abraçam todas as religiões e, portanto não abraçam nenhuma) deve ser visto pelos missionários, estrategicamente, de maneira positiva, como um ponto de contato para a aproximação e apresentação do Evangelho. Miremos no exemplo de Paulo em Atenas que aproveitou a brecha na cultura mítica do povo grego para apresentar o Deus desconhecido. Tenho experiências no campo de Canela de pessoas que, em principio, movidas pela curiosidade, aproximaram-se da igreja para conhecer "mais uma religião", e ouvindo a pregação da Palavra foram convertidas e hoje tem firmado o coração somente em Cristo.


TERCEIRO MITO
"A CULTURA GAÚCHA É BAIRRISTA, O GAÚCHO É FRIO E MUITO DESCONFIADO, NÃO É HOSPITALEIRO".


Estou bem convicto que este mito esta apoiado em uma má compreensão da cultura colonial que impera na maioria das cidades gaúchas. A personalidade forte alemã, ou espirituosa e intempestiva italiana é uma marca na vida da maioria do povo gaúcho. Isto de fato provoca uma certa separação do resto do Brasil, uma cultura muito particular e um tanto quanto restritiva em vários aspectos. Mas daí a dizer que o povo gaúcho, herdeiros desta cultura europeia é um povo fechado, mau humorado, não dado a hospitalidade é falso, pelo menos em Canela tenho visto algo totalmente diferente. Em minha experiência na serra gaúcha observo que existem pontos de contatos a serem explorados e que o tempo encarrega-se de consolidar amizades e relacionamentos, talvez seja verdade, num ritmo diferente do mineiro, paulista, baiano, etc. Mas certamente existem formas amáveis de relacionamento dentro da cultura gaúcha. Talvez possamos nos integrar mais facilmente aprendendo, por exemplo, a tomar o chimarrão, ou respeitosamente declinar deste habito caso não nos adaptemos a este diferente paladar (porque tomar o chimarrão de maneira artificial para agradar aos gaúchos é mais ofensivo do que gentilmente rejeitar a oferta de "chimarrear"). Aprender também a ouvir, a respeitar as boas tradições e discussões politicas (o povo gaúcho com certeza deva ser o mais politizado do Brasil), e principalmente ser amavelmente sincero e verdadeiro em todos os relacionamentos são portas abertas para que o Evangelho penetre na cultura gaudéria e alcancemos os eleitos de Deus. Em resumo, não tentar impor nossos costumes culturais do sudeste e norte do Brasil, etc.


Cremos que o Evangelho é supracultural. Ele não violenta nem destrói as culturas humanas, mas transforma aquilo que é pecaminoso, preserva aquilo que é criativo dentro do aspecto da graça comum, e revela através da graça especial a beleza e riqueza de Cristo, que esta sendo gerado no homem interior dos eleitos redimidos.


Concluo também que este mito das barreiras culturais é insustentável diante do poder transformador supracultural do Evangelho de nosso Senhor.


QUARTO MITO
"NÃO DISPOMOS DE RECURSOS FINANCEIROS PARA EXPANDIR A IGREJA PRESBITERIANA NO RIO GRANDE DO SUL – NINGUÉM OLHA PRA NÓS".


Este mito é institucional. De fato, pode ser (não conheço bem a história anterior) que o presbiterianismo no Rio Grande do Sul não tenha sido alvos de investimentos  relevantes para o expansão da IPB aqui, pode ser que os investimentos até existiram mas estrategicamente não foram tão bem empregados (contratação de obreiros não qualificados para a plantação, locais estrategicamente mal escolhidos, assistência incompleta, etc). Mas, prefiro avaliar desde o tempo que aqui cheguei (2005). Nestes últimos cinco anos percebemos claramente que houve  grande esforço de investimentos financeiros, logístico, treinamento e aprimoramento nas estratégias de plantação de igrejas no Rio Grande do Sul. Não somente os órgãos responsáveis pela plantação de igreja e evangelização (PMC – JMN-CNE) investiram no RS, como outros parceiros de grande tradição e competência em plantio de igrejas, além de uma parceria internacional com a Igreja Reformada e Libertada da Holanda, vêm proporcionando a abertura de novos campos, a consolidação de campos existentes, a organização de novas igrejas, o envolvimento de nossos seminários e seminaristas (Projeto Despertando Vocações), entre outras coisas boas que aqui estão acontecendo. Acredito que bons projetos, bem elaborados, com boa fundamentação e apresentação sempre terão recursos aprovisionados e muitas igrejas e concílios que possuem visão missionária certamente haverão de se associar no investimento que traga sustentabilidade a estes projetos.


Descarto então este outro mito porque ele não traduz a verdade dos bons ventos que tem soprado no Rio Grande do Sul, do grande interesse e comprometimento do SC-IPB e parceiros na plantação de igreja nesta boa terra.

Concluindo...

As "explicações" dadas para justificar as dificuldades da expansão presbiteriana no RS, a meu ver, são mitos, são interpretações incorretas e viciadas em pressupostos falaciosos. Estes mitos não se sustentam a uma boa analise, seja teológica, antropológica, eclesiástica ou missiológica.


Ousemos plantar igrejas, independente da dureza do coração humano, das barreiras culturais,  do sincretismo religioso, etc. Deus é fiel! Ele prometeu garantir o sucesso da empreitada evangelística de sua igreja. "As portas do inferno não prevalecerão!".

A Deus toda Glória!!

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